quinta-feira, 4 de junho de 2009

Episódio 1: Doce tragédias de um início de viagem.

Olho para o microondas. 8:50 da noite. No Brasil, de acordo com o fuso-horário, devem ser 4:50 da tarde, penso eu. Penso porque é a única coisa que me resta fazer nesse apartamento gigantesco onde (por enquanto) resido sozinha. A TV não funciona, não há rádio, nem computador e as pessoas que moram no prédio ainda não conheço bem. A ideia de morar na Irlanda que parecia ser tão divertida começa com pequenas "tragi-comédias" da vida que não seriam tão interessantes se não fossem escritas.
A primeira delas, como já citado, foi a televisão. Sim, exatamente, aquela que desprezamos tanto, é a que mais me faz falta nesse momento tão peculiar da vida.
Aperto todos os botões, verifico a tomada, tento o controle remoto e nada! Ela simplesmente não funciona.
Lamento informar (a mim mesma) que a TV virou um mero detalhe quando tive a brilhante ideia de esquentar água para fazer um "coffee". Afinal de contas, estou sozinha no apartamento, não tenho televisão e (ainda) não tenho vontade de me embebedar.
Tomada a decisão de fazer o café, assim como de costume, coloco água na chaleira e ponho no fogão para esquentar. Começo já a imaginar o gosto do café quentinho na boca. Gostaria mesmo é de sentir o cheiro do café fresquinho saindo do coador, porém, minha imaginação não é forte o suficiente para disfarçar o cheiro de queimado que adentra minhas narinas. Puta que pariu! A chaleira era elétrica. Desligo o fogão correndo, mas o plástico já está todo derretido em cima da chapa. Ora essa, nunca tinha visto na minha vida uma chaleira elétrica. Mas a melhor parte ainda está por vir, olho atrás da porta de entrada do apartamento e logo um simpático bilhetinho que diz o seguinte: "qualquer dano causado nesse apartamento deverá ser cobrado do morador". Não vamos entrar em detalhes quanto ao custo porque preferi esquecer essa parte por alguns instantes.
Isso tudo porque estou contando apenas uma parte do que já me aconteceu. Ainda deixei de lado uma tomada estragada, dois dedos queimados e uma calcinha que serviu de elástico para segurar a pequena alavanca que faz a água do banho sair pelo chuveiro e não pela banheira.
Mas, por outro lado, o que seria desse texto sem todos esses acontecimentos? O que seria de mim sem um papel e uma caneta nesse momento em que não tenho televisão, não tenho computador e para completar, estou longe da família e dos amigos? Não resta mais nada além de pensar e escrever.
Ao final do texto olho novamente para o microondas. Ele continua marcando 8:50 da noite. Que ótima notícia: o relógio do microondas também está estragado.

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